A gata e o rato

Durante um tempão achei que não gostava de gatos - até que a Cindy chegou à minha casa, vinda de uma sucessão de maus tratos e abandonos.

Não foi amor a primeira vista. Nós nos estranhamos, e muito. Nossos santos não cruzavam. Era ela lá e eu aqui, cada um no seu canto. Afinal o que é que eu poderia ter a ver com aquela gata vira-lata, arredia e assustada?

Com o tempo fomos nos aproximando, cada um com os seus problemas. E tenho que admitir que não eram poucos. Eu estava deprimido. Depressão é uma coisa medonha. Não desejo isso ao meu pior inimigo.

Bem... talvez só pra ele.

Gatos não são animais brincalhões e engraçadinhos como os cachorros. Felinos são muito mais discretos e sérios. Podem parecer pouco receptivos, até antipáticos. Mas não são. Sabem olhar pra você com uma compreensão imensa. Sabem ouvir, mesmo que você esteja em silêncio e que só fale em pensamentos. Gatos são atentos, seguros, independentes, inteligentes e fabulosamente chiques.

Não existe nenhum ser vivo mais elegante que um gato.

Cindy me acompanhou em um período terrivelmente difícil. Ela me viu sem um pingo de ânimo nem pra sair da cama. Estava ao meu lado quando achei que nunca mais encontraria força pra nada.

Acreditei que iria me ferrar, mas ela não. Ela sabia que não.

Cindy permaneceu ali, sempre fiel e estimulante. Os olhos redondos dizendo vai nessa, você vai conseguir.

Então um dia acordei faminto. Levantei, tomei banho, comi e percebi que iria sobreviver. Cindy também sabia disso. Ela sempre soube. E salvou a minha vida.

Miau !