31 maio 2005

Dona Ursa

Jôka P.
Uma aventura na floresta com a misteriosa índia Ursa sentada.

30 maio 2005

O Copa é Pop

Jôka P.
O Copacabana Palace entrou na lista dos dez melhores hotéis da América Latina da prestigiada revista americana " Celebrated Living ".

Ditado

" Diga-me com quem andas que te direi se vou também."

Barão de Itararé

29 maio 2005

Ela é carioca...

Jôka P.
D
etesto namorados ponta-de-estoque.
São fora de moda, cheios de defeitos, baratos e estão sempre sobrando.

28 maio 2005

Normal


Sempre quis ser diferente.
Desde pequeno, brincava de coisas diferentes, com meninos e meninas diferentes.
Queria aprender coisas diferentes, namorar pessoas diferentes.
Gostava de usar roupas diferentes, de cores e formas diferentes.
De fazer desenhos diferentes, de ver filmes diferentes, de ler livros diferentes.
De ouvir musicas diferentes.
Sempre trabalhei em coisas diferentes.
Aqui estou, depois de tanto tempo, igualzinho.
Querendo ser diferente.

O Copa e suas estrelas de cinema

Foto : Jôka P.

O Copa e suas estrelas de cinema


Anita Ekberg , a exuberante estrela de "A Doce Vida", de Frederico Fellini, passou uma temporada de férias no Copacabana Palace.

O Copa e suas estrelas de cinema


A fabulosa Rita Hayworth, La Vedette Atomique, a legendária Gilda do filme de Charles Vidor, se apaixonou perdidamente pelo Brasil, e foi ficando...


Hospedou-se durante mais de um mês no Copacabana Palace.

Confirmou para os cariocas a máxima de nunca houve uma mulher como Gilda.

O Copa e suas estrelas de cinema


Nunca foi segredo que Orson Welles era bom de copo.
Uma vez tomou todas, e completamente enlouquecido, destruiu a luxuosa mobília de sua suíte no Copacabana Palace.

Jogou tudo pela janela, na piscina da Pérgula. No dia seguinte, jurou que não se lembrava de mais nada.

Tadinho.

O Copa e suas estrelas de cinema


Ava Gardner, outra estrela pinguça, também promoveu um quebra-quebra homérico no hotel.
Um grupo de famosos playboys cariocas sobrevoou o Copa com um aviãozinho onde estava pendurado o aviso, em letras imensas :
" AVA, GO HOME ! "

27 maio 2005

Copacabana Palace

Jôka P.


A família Duvivier era dona de Copacabana inteira, desde a pedra do Leme até o Arpoador.
Foram eles que, em 1921, venderam o terreno para a família Guinle, para a construção do Hotel Copacabana Palace. O preço na época foi de mil Contos de Réis.
O hotel deu muito pouco lucro durante todo o tempo em que pertenceu aos Guinle. A administração gastava demais, mantendo mais empregados do que era necessário.
O empresário James Sherwood é o atual dono do hotel, que hoje é bem administrado.

E que continua fabuloso e fascinante.

Copacabana 1892


Copacabana começou a existir como bairro a partir de 1892.

Em 1900 havia muitos terrenos vazios, algumas poucas belas casas, mas ainda nenhum edifício.
Não havia comércio e quase ninguém morava no bairro.
As mansões eram todas casas de veraneio.

Como hoje se tem casa em Búzios ou Itaipava, naquela época se tinha casa de férias em Copacabana.

Bons tempos.

Ela é carioca...

Jôka P.
Ricos são vocês. Eu sou é chique ...

26 maio 2005

Outono em Copacabana

Foto : Jôka P.

Minha alma canta ...


" Cristo Redentor,
braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio eu gosto de você ..."

Paraíso


Vamos combinar que ser carioca é, cada vez mais, padecer no paraíso.

Rio Babilônia

O caos e a zona dos camelôs na Avenida Copacabana é uma história super antiga e parece que não vai acabar nunca.
Eu presencio cenas quase que diárias de correria e perseguição intermitente aos ambulantes. Digo intermitente porque a fiscalização só acontece em certas horas do dia.
Nas outras horas, os camelôs voltam e armam novamente a feira-livre.

Ninguém merece isso. Nem os camelôs, nem você e nem eu muito menos.

Não sei se devem liberar o comércio informal nas ruas.
Nem tenho uma opinião formada sobre o assunto.
O que não está dando mais para aturar é essa palhaçada ridícula de finge-que-não-pode-finge-que-pode.
Pode ou não pode.

25 maio 2005

Desligado

Jôka P.
Hoje estou desligado ou fora da área de alcance.

23 maio 2005

Clarice

" Não se preocupe em entender.
Viver ultrapassa qualquer entendimento."
Clarice Lispector

Peixes deitados de lado

Pierre & Gilles

Copacabana é muito mais do que um bairro.

Quem é aquela senhora que vejo quase todos os dias, carregando uma sacola com caixas de Lexotan ? Ela está em Copacabana - e nos meus sonhos - velha esquecida, de mãos trêmulas.

Copacabana é um limite entre a cidade e o meu inconsciente.
Copacabana é assim. Organiza ela mesma a sua lógica.


A velha paupérrima da Rodolfo Dantas parada na porta da farmácia.
O travesti gigantesco vagando pela noite com os seus sapatos prateados.
A socialite narcisa, apaixonada por si mesma, saindo sozinha do Edifício Chopin.
O calçadão traçando um diagrama sinuoso, em preto e branco, imitando o movimento do mar.

Sonhei que andava até o Leme, e lá no fim encontrava pessoas muito queridas, mas que já tinham morrido. E que o mundo era estático. Bastava ser atento e sério - como um peixe dentro de um aquário redondo - para entender a vida real.


Sonhei com peixes na areia da praia. Peixes deitados de lado.

Sonhei que a minha vida era um blog.

Minha vida era um blog aberto.

E que o tempo parava, como numa fotografia.

22 maio 2005

Água de coco

Foto : Jôka P.
Aconteceu essa semana, em um quiosque da Av. Atlântica.
Uma senhorinha pediu ao atendente para lavar o coco antes de servir.
Aí o rapaz, super mal-criado, chiou :
-" Se eu tiver que lavar cada coco, vai aumentar o preço ."
E a senhorinha :
-" É para eu não pegar hepatite. Vai lavando logo esse coco, rapaz !!!"
O balconista emudeceu e caprichou na lavada, quietinho.
Quem tem coco, tem medo.

Jaca Podre

Foto : Jôka P.
Domingo de chuva na Avenida Copacabana.
Sexta-feira tomei um estabaque na Visconde de Pirajá.
Estava muito distraido, e de repente escorreguei, despencando como uma jaca podre.
Foi uma humilhação federal.
Fiquei de quatro, rasguei minha Levis de estimação e quase morrí.
De vergonha.
Agora com essa chuva toda e o tornozelo inchado, não tenho outra alternativa :
DVD, almofadão, Miojo e Anador.

21 maio 2005

Boa noite, Marilyn !

Andy Warhol

Ela sonhava tornar-se " tão bela que as pessoas se voltariam na rua para olhar para mim."
Quando tinha seis anos, imaginava-se andando nua pelo mundo.

" Nua, eu era como todas as outras meninas. E não como alguém num uniforme de orfã."


Marilyn, minha querida.

Minha garota linda.

Boa noite, Cindy !


Boa noite, Cindy !
Você é uma gatinha !

Boa noite, Copacabana !

Boa noite, Copacabana !
Você é superbacana !

As estrelas não gritam quando caem

Pierre & Gilles
Querido amigo,

há muito tempo atrás, estávamos eu e Miguel olhando para o céu de Itaipava, na rede da varanda.
Loucos, desarvorados, rindo de qualquer besteira.
Quando de repente, uma estrela, cansada de se pendurar no firmamento, despencou sobre as nossas cabeças.
Sem um lamento, nenhum ruído, nada.
Talvez um rastro luminoso, mas breve.
Tão breve que mal deu tempo de gritar :
-"Olha lá a estrela cadente !"
E tudo já tinha se acabado.
Tenho me sentido muito só ultimamente.
A solidão repleta de gente, que é a pior de todas.
A solidão dos meninos que nunca aprenderam a crescer.

Quando eu era criança, vovó Mathilde me levou ao Metro Copacabana, para ver Quo Vadis.

Vovó torcia por Deborah Kerr, a bondosa cristã de túnica azul, que amarrada numa estaca, enfrentava corajosamente uma fera faminta.

Eu torcia pela vilã, a fabulosa imperatriz morena, coberta de jóias, que abaixava o dedão, impiedosa.

Anos depois, procurando na Internet, descobri o nome daquela coadjuvante que encheu meus sonhos por algum tempo.
A atriz se chamava Patricia Laffan e nunca se tornou uma estrela.
Mas numa espécie de vingança estranha e compulsiva, eu inventei a sua história :
Ela se casou com um homem bom, o bonitão da turma, que a amava desde os tempos da escola.
E que sempre esperou por Patricia, até que ela se cansasse da carreira.
Então construiram juntos um futuro de felicidade, em Technicolor.

Patricia Laffan nunca soube que as estrelas não gritam quando caem.
Ela foi mais esperta que eu.
Pulou fora, antes do fim.
Ou talvez tenha entendido a verdade definitiva :
Elas não gritam, porque há muito perderam a voz.
De tanto gritar por socorro, na solidão azul do céu.

Sinto muitas saudades de você.
Jôka P.


Chão de estrelas

foto : Jôka P.

Encontrar pelas ruas do bairro com vizinhos mais ou menos famosos, é a coisa mais normal do mundo, em Copacabana.
É o Ferreira Gullar comprando alface no mercadinho, a Eliana Pittman fazendo xerox na papelaria, o Fábio Sabag na drogaria Descontão, a Dóris Monteiro cheia de bobs nos cabelos, passeando com o totó, o Diogo Vilela raspando a nuquinha no barbeiro da esquina, a talentosa Jane de Castro, a fabulosa Rogéria, a Ilka Soares de bermudas na fila do Banco Itaú, o Braguinha tomando o seu guaraná no botequim, o Clóvis Bornay, que sai todo alinhado só pra ir até o jornaleiro ...
A gente já nem liga.
Meio que finge que não viu, ou no máximo dá um sorriso, e passa direto.
Mas a fabulosa Hebe Camargo na Av. Copacabana, vamos combinar que é tudo.
Tudo de bom.
Óbviamente é só uma Hebe cenográfica, mas mesmo assim, não resisti e tirei a foto.
A menina de dentes perfeitos, chama-se Danielle, como não poderia deixar de ser.
Ah, e a jovem senhora que vem atrás, de canga e biquine azul, é uma travesti, tá ?

: )

Foto : Pierre & Gilles
Em algum lugar do passado ...

:´ (


Como se não bastasse a violência, a baixaria, a decadência econômica, o mau gosto impositivo e tudo mais, o Rio parece que está ficando cada vez mais provinciano.
Essa semana vi uma nota numa coluna do Globo, contando que alguns moradores de Ipanema estão totalmente escandalizados porque os gays se beijam em público, numa badalada pizzaria da Farme de Amoedo.
Parece que a República Livre de Ipanema virou uma daquelas antigas cidades cenográficas das novelas de Dias Gomes.
Zilka Sallaberry seria a delegada moralista.
Ida Gomes e Dorinha Durval poderiam interpretar as velhas virgens e falsamente puritanas.

Mauro Rasi e Leila-para-sempre-Diniz, em compensação, devem estar se revirando no túmulo.

Perla


Uma amiga contemplada pela natureza com cabelos ainda mais lisos que os da cantora paraguaia Perla, anda jurando por Deus que vai fazer permanente.
Acha que com a escova-definitiva e a chapinha, cabelo liso vulgarizou.
Pensando bem, acho que ela tem toda razão.

TANG


A indústria de refrescos inventa o tempo todo mil similares e genéricos.
Pipocam por aí várias imitações, nos mais exóticos e variados sabores :
Pera, Graviola, Maracujá, Lima-Limão, Uva, Morango, Acerola (Argh!!!), Pêssego ...
Mas o melhor, o absoluto, the best é o TANG de laranja

Agora o mundo já sabe a minha verdade definitiva e absoluta.
Pronto, falei.
Todos já podem dormir tranquilos.

Fui.

20 maio 2005

Miss Monroe

Bom dia, Miss Monroe !

Edifício Chopin

Foto : Jôka P.
Avenida Atlântica 1.782, ao lado do Copacabana Palace.
Reveillon costuma ser a primeira lembrança quando se fala no Edifício Chopin, um dos endereços mais badalados do Rio.
É lá que a aristocracia carioca, os novos ricos, as socialites de carteirinha, as demi-mondaines, os políticos, suas amantes e todo tipo de celebridades se amontoam no dia 31 de dezembro, para celebrar o Ano Novo.
Projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon e construido em 1956, em estilo modernista, o Chopin foi o primeiro prédio de Copacabana a ter janelas de vidro até o chão.

19 maio 2005

Ela é carioca...


A linda carioca com o vestido deslumbrante, está desfilando no Golden Room do Copacabana Palace, na década de 50.
Ela se chama Gilda e tem vinte e poucos anos.
Dizem que nunca houve uma mulher como Gilda.
Eu concordo totalmente.
Gilda é a minha mãe.

Ela é carioca...

Jôka P.

Bia veio para Copacabana decidida a ser atriz.
Divide um quarto-e-sala minúsculo na Siqueira Campos, com duas amigas e o seu fiel cão Frederico.
Entre um teste para o teatro e uma figuração em novela, a menina é demonstradora nas Casas Sendas. Distribui fatias de queijo provolone para donas de casa desesperadas, com um sorriso encantador.
Bia sonha em ter o seu próprio programa de TV.

18 maio 2005

Ela é carioca...

Jôka P.

Ninguém diz que Vivi tem só 17 aninhos. Ela aparenta bem mais.
Mora com os pais na Avenida Atlântica, no Edifício Chopin.
Quando não está em Búzios ou na Côte D´Azur, vai à praia em frente de casa mesmo.
Filha de embaixador, conhece quase que o mundo inteiro.
Adora música techno, odeia pagode, detesta carne vermelha, bebe champagne desde os 15 anos e nunca na vida acordou antes de meio-dia.
A lolita coleciona perfumes franceses, relógios Cartier e namorados.

Ela é carioca...

Jôka P.

Marcele mora na comunidade do Tababajaras, tem 19 anos e está muito feliz.
Além de linda, a garota é campeã carioca de futebol feminino.
Vai prestar Vestibular para Educação Física e dedica esse troféu à sua companheira, a quem ela chama carinhosamente de anjinho.
E principalmente a Deus, porque sem Ele, nada disso seria possível.

Ela é carioca...

Jôka P.

Juliana mora na Rua Santa Clara, estuda estilismo e acabou de comemorar 21 anos.
É louca por música country e tem um sonho secreto :
Conhecer um cowboy, se casar com ele e ser feliz.

Se depender dela, para sempre.

17 maio 2005

Ivete

Foto : Jôka P.

Ivete Sangalo em publicidade da tintura de cabelos côr Marrom Ivete, na porta das Lojas Americanas da Av. Copacabana.

O varal


O varal dos mendigos, no Posto Seis da Avenida Atlântica.

A beleza e o caos


Do Leme ao Posto Seis, o caos urbano tem vários ingredientes.
Mendigos bêbados, moleques cheiradores de cola, pivetes gatunos, camelôs de todo tipo, piranhagem descarada e cachorros soltos na praia são somente alguns dos problemas.
Ontem, na Avenida Atlântica, diante da escultura do poeta Carlos Drummond de Andrade, um grupo de moradores de rua, na maior cara-de-pau, montou um acampamento medonho no canteiro central.
Colchonetes imundos, cozinha improvisada e até um varal de roupas nojentas foi estendido entre dois coqueiros, num dos mais belos cartões-postais do mundo.
D
rummond não merecia isso.
N
inguém merece.

15 maio 2005

Arqueologia Carioca

Essa é provavelmente a foto mais antiga já encontrada, da Praia de Copacabana.

correto X incorreto


" A gente não deve perder a chance de discutir a utilização de expressões preconceituosas e discriminatórias. Não adianta dizer que "negão" ou "bicha louca" podem ser utilizados de forma carinhosa.
Quem determina o que é preconceito é quem o sofre e não quem o pratica."

Artur Xexéo

Copacabana


" Esta é Copacabana - ampla laguna
Curva e horizonte, arco de amor vibrando
Suas flechas de luz contra o infinito.
Aqui meus olhos desnudaram estrelas
Aqui meus braços discursaram à lua
Desabrochavam feras dos meus passos
Nas florestas de dor que percorriam.
Copacabana, praia de memórias !
Quantos êxtases, quantas madrugadas
No seu colo marítimo ! Esta é a areia
Que enlameei com minhas lágrimas. "

Vinícius de Moraes - Esta é Copacabana, ampla laguna.

Ilka

Ilka Soares, garota de Copacabana, desfilando o new look da década de 50, para a Casa Canadá, no Rio. Naquela época, também desfilava para a mesma Maison, a jovem Danuza Leão.

Domingo


Foto : Jôka P.


Saio pelas ruas fotografando tudo e todos que encontro pela frente.
Q
uiosques na praia, gordas famintas, velhas esquálidas, mendigos obcenos, portas das Lojas Americanas, vitrines de padarias, lésbicas furiosas, mulatas faveladas, pin-ups suburbanas, bichas asiáticas, lolitas drogadas, porteiros severinos, marombeiros minúsculos, pistoleiras vadias, evangélicas virginais, taxistas alucinados...

Como o tempo passa quando a gente se diverte.

14 maio 2005

Hebe


Hebe Camargo em um leilão de gado, daqueles exclusivos, só para magnatas paulistas.

Cabelão de laquê, túnica floral, duzias de correntões poderosos, jeans arrochados e botas de bico finíssimo, adornadas por centenas de pedrarias multicores.
Chega o Amaury Jr. e diz, naquele tonzinho meio bocó :
-"Lindos óculos, Hebe !"
-"É, Amaury !- a loura responde, com uma sinceridade comovente - Bem simplezinhos... Assim ninguém vê que uso óculos."
As lentes eram contornadas por duas voltas de brilhantes autênticos, soberanos.

Era a Hebe.
Ela pode.

Odete

Foto : Jôka P.


Casada há 45 anos com Seu Aldir, Odete é uma mulher feliz.

Criou três filhos e seis netos, com o suor honesto do marido. Hoje vive tranquila, em confortável casa própria, sem maiores problemas financeiros.
Tem saúde para dar e vender.
Quem vê Dona Odete assim, tão sisuda, descendo pela Avenida, não pode nunca imaginar que no passado, e põe passado nisso, ela incendiou tantos corações.
Não houve um único rapaz em Copacabana, do Leme ao Posto Seis, que não sonhasse com aquela pequena.

Os seios fartos, querendo pular do decote.

E o corpo irresistível, de violão, da menina Maria Odete.

Janete e Olimpia

Foto : Jôka P.

As duas senhoras que se amparam, são vizinhas e amigas inseparáveis da vida inteira.
Casaram e enviuvaram práticamente juntas.
Estão voltando do Posto de Saúde de Copacabana, onde foram tomar a dose anual da vacina contra gripe.
Janete tem pavor de injeção, desde mocinha.
Olimpia, a mais coquete, deu uma passada na Zacarias Modas e não resistiu.
Comprou um conjuntinho de malha, que lhe caiu como uma luva.

Soraia

Foto : Jôka P.

Soraia está sempre na esquina da Rua Santa Clara, vestida assim, de hippie-cigana.
Lê as mãos, joga búzios e faz trabalhos de magia.
Jura de pés juntos que pode trazer o ser amado de volta, em sete dias.
Soraia topa qualquer parada.

Mercedes

Foto : Jôka P.

Mercedes lutou a vida toda contra a balança.
Foi aos Vigilantes do Peso, fez a dieta da lua, ortomolecular e o diabo.
Agora que ficou viúva, desistiu dos sacrifícios e entregou pra Deus.
Come Leite Condensado na lata, cuca de banana, sorvete Chicabon, goiabada com queijo, e toma até os seus chopinhos, às sextas-feiras. Com montanhas de batatas fritas.
Aos sábados não dispensa por nada no mundo, um rodízio de pizzas gordurosas e suculentas, na Avenida Atlântica.

Sirlene

Foto : Jôka P.
Humilhada pelo padrasto canalha e cansada de tanta necessidade, a pobre Sirlene fugiu de casa, no Ceará, e ganhou o mundo.
Ainda não teve um único dia feliz, mas nunca desiste de procurar.
Os cabelos amarelos da coitada, têm a mesma cor dos anúncios de Sex-shop, que distribui encabulada, em Copacabana.

13 maio 2005

Praia de Copacabana

Sexta-feira 13

Vitrine na Av. Copacabana - Foto : Jôka P.

Hoje é Sexta-feira 13.
Toc, Toc, Toc na madeira ...

Fernanda


Fernanda Montenegro diante do cinema Roxy,

na Avenida Copacabana.

Cena do filme "O outro lado da rua".

Beatriz

Mar da tristeza infinita - acrílica sobre tela - Jôka P.

Orlando terminou de jantar e recostou-se na poltrona de courino marrom.
- Tem algum programa bom na televisão ? - Beatriz perguntou tirando os pratos da mesa.
O homem ligou a tevê sem responder.
Tinha uma loura, ex-amante de algum obscuro pagodeiro, exibindo suas novas próteses mamárias. "As maiores da América Latina !" - anunciava a cachorra, orgulhosa.
Beatriz serviu um cafezinho e veio aninhar-se entre ele e o braço da poltrona.
As crianças - Bernardo, Beranice e Bia - tinham ido à um aniversário, no mesmo prédio.
De repente, o sujeito empurrou Beatriz delicadamente para fora da poltrona e disse :
- Tenho que ir. Hoje estou sem desculpa em casa.
Vestiu o jaleco de dentista com a ajuda dela, que o levou até a porta, e recebeu na bochecha um beijo chôcho.
Depois que ele saiu, Beatriz desligou a televisão e foi para a cozinha lavar a louça, senão dá barata.
Tudo limpinho, voltou ao quarto, tirou o vestido e meteu-se em uma camisola de malha atoalhada, comprada aquela tarde, nas Lojas Americanas.
Enfiou nos pés uma sandália havaiana e foi para o banheiro escovar os dentes. Tirou a maquiagem, botou um a um, todos aqueles bobs de plástico nos cabelos e passou no rosto uma grossa camada de creme Ponds.
Apagou a luz do banheiro, caminhou até a cama, sentou-se nela e deu corda no despertador.
As crianças tinham a chave da frente e não deviam demorar.
Fechou a janela do quarto, mas nem assim conseguiu diminuir o barulho forte que subia da Avenida Copacabana.
Deu um longo bocejo, deitou-se, cobriu-se com o edredonzinho barato e apagou o abajur.
Antes de dormir chorou um pouco.

10 maio 2005

Celeste

Foto : Jôka P.

A mulher pobre, protegida debaixo da marquise da Adonis chama-se Celeste.
Carrega uma sacola de lona com duas caixas de Lexotan, para acalmá-la da solidão, que a vida lhe deixou.
Celeste conhece de cor todos os labirintos e esconderijos de Copacabana.
Com os nervos massacrados por calmantes, a anciã continuará ali, por algum tempo, esperando o fim da chuva.
Depois irá à Casas Sendas comprar iogurtes, na esperança de melhorar seus intestinos arruinados.
Dormirá cedo, com a gata Sofia no colo, coberta de farelos de biscoitos Maizena, diante da televisão ligada.
Morrerá em seu bairro.