03 dezembro 2005

A Poderosa Íris

Estava atravessando a Praça General Osório, em Ipanema, quando vi uma mulher que me chamou a atenção.

Era loura. Louríssima como uma Marilyn, e trazia nas duas mãos um monte de sacolas de supermercado.
Tinha a idade indefinida das beldades em declínio. Talvez 60, talvez menos.

Me aproximei e perguntei se não queria que ajudasse com as sacolas.
Ela me olhou com algum espanto, mas aceitou a juda. Então a reconheci.
UAU ! Era ELA !!! A legendária Iris Bruzzi. A poderosa Íris.
A estrela da famosa companhia de Walter Pinto, da última fase áurea do teatro de revista carioca.

A mulher que desceu dezenas de escadarias suntuosas, com nuvens de plumas e paetês cintilantes em todos os palcos do Rio, num desbunde apoteótico.

Aquela vedete que passei a infância e parte da juventude admirando na televisão e no cinema, estava diante de mim, me estendo sacolas de Miojo Lámen, biscoitos Cream-Cracker e Pinho-Sol.


Atravessamos a Visconde de Pirajá conversando, até chegarmos à portaria do prédio onde está hospedada.
A tv Globo alugou um pied-à-terre para ela, que mora nos Estados Unidos e vive de alugar apartamentos, desde que perdeu quase tudo com o Plano Collor.
Miss Bruzzi ( sim, todas as grandes estrelas para mim são misses ) está começando a gravar “Belíssima”, no papel de Guida Guevara.
Me contou entusiasmada que será uma ex-vedete espertalhona e arqui-rival de Mary Montilla ( Carmen Verônica, a Fabulosa!), que teve um caso conturbadíssimo com Gigi ( Pepê Rangel ) e que guarda um segredo-chave da novela.
E nada mais disse.
Pegou as sacolas de mantimentos, me deu um sorriso encantador e entrou no hall de mármore do edifício.
Antes de desaparecer no portão de ferro, Iris Bruzzi se virou uma última vez e deu um aceno de miss, como se estivesse embarcando em um transatlântico cercada de fotógrafos.
Sorriu e piscou os olhos maquiados com delineador.
Ela sabia que as curvas de uma estrela podem alterar destinos retíssimos.

E então ? E depois ?
Não há então.
E nem depois.

Íris Bruzzi nasceu em 16 de fevereiro de 1935, no Rio de Janeiro.


9 comentários:

Angela Ursa disse...

Jôka, mas que coincidência você encontrar a Iris Bruzzi na rua! Eu costumo gravar os capítulos da Belíssima para assistir fora do horário. Tenho me divertido um bocado com as personagens da Iris e da Carmem Verônica. Elas estão ótimas na novela! Beijos da sua visitante da madrugada, Dona Ursa!

Anônimo disse...

Passei para desejar um bom final de semana. Abraço.

Matilda Penna disse...

Ela não está em declínio nada, está ótima, muito bonita, um outro tipo de beleza, mas sempre beleza.
Sempre será miss, como você mesmo disse.
Beijos, :).

Jôka P. disse...

Um bom sábado pra vocês !
:D

Anônimo disse...

Jôka, inaugure como vc quiser e quando quiser o meu novo blog. Eu vou ficar feliz, feliz, acredite.
Liliane

Anônimo disse...

Oi queridíssímo, tava com saudade! Também estou gostando muito daquelas duas na novela. Beijo grande da Biba.

Giovanni Lucato disse...

Uma estrala já mais perde seu brilho! Queria q todas as pessoas fossem como vc, dessem valar as estrelas brasileiras e não esquecem o que ela foi no passado. Infelizmente aqui no Brasil a maioria tem memória curto. Tudo de bom pra e uma ótima semana.

Jôka P. disse...

Giovanni,
estrelas são pessoas especialmente luminosas, que de alguma forma encantam as nossas vidas.
Pela beleza, pelo talento, pela bondade ou por algum gesto de heroísmo ou amor.

Existem estrela eternas, as que brilham para sempre, sem nunca se apagar como Marilyn.
E estrelas cadentes.
Essas um dia se apagam.
Mas em algum cantinho da mente e do coração de alguém, ainda continuarão a irradiar luz.

Dizem que as estrelas não gritam quando caem.

Eu acredito nisso.

:)

Lia Noronha disse...

Jôka: essas estrelas que continuam brilhando,apesar do grande tempo de anonimato!
Beijos carinhosos.