



Queria tanto me lembrar de uma coisa, mas não consigo.
Anjos. Tem a ver com anjos partindo.
Anjos que desaparecem, voando juntos.
O Duplex era um bar no centro de Paris, onde nos anos 80 passei momentos felizes e fiz duas exposições.
Carlos – um amigo brasileiro que trabalhava lá, fazendo um pouco de tudo - DJ, fotógrafo, host, promoter, barman e gerente. Me apresentou a "tout le monde" e me hospedou várias vezes em seu apartamento.
Da última vez em que esteve no Brasil, veio me visitar. Tomamos caipiwodkas, rindo muito até de madrugada em um bar da Av. Atlântica. Carlos tinha vindo se despedir dos amigos e ver pela última vez a Praia de Copacabana.
Dias depois, a irmã dele telefonou, dizendo que lamentava, e tal, mas que Carlos tinha partido. Eu já esperava, mas foi como se tivesse sido soterrado por uma avalanche gelada.
Uma geração inteira de amigos saiu da vida muito cedo, como uma revoada de anjos. Todos jovens, talentosos, inteligentes. E muito queridos.
Falange. Falange. Legião.
Então era isso o que eu queria lembrar. O coletivo de anjos.
Je vous salue, Marie pleine de grâces, le Seigneur est avec vous. Vous êtes bénie entre toutes les femmes...
Amém !
Hoje a Franka esteve no Rio e passou aqui em Copacabana pra me ver.
Copacabana é muito mais do que um bairro. É uma vida secreta, a minha casa interna.
O calçadão da praia, traçando um caminho sinuoso em preto e branco, imitando o movimento do mar.
Copacabana é um limite entre a cidade e a geografia do meu inconsciente. Copacabana é assim, exagerada, decadente, chique, descontrolada, brega, punk, puta auto-suficiente, princesinha cintilante, iemanjá luminosa e superbacana.
Organiza ela mesma a sua lógica.
Blogs começam e acabam todos os dias, quando a gente menos espera.