Assistindo o horário eleitoral gratuito, tento encontrar um único candidato que tenha no mínimo cara de honesto, mas até agora só encontrei canalhas, vampiros, caipiras, analfabetos, boçais, tele-pastores e palhaços nesse circo dos horrores.
Estou desiludido com essa gente ordinária e sinto vontade compulsiva de anular o voto.
Mas tenho pena. Tenho muita pena.
Sentada no sofá macio de veludo francês bordeaux, suavemente iluminada pelo abajur art-deco, a elegante Gigi aponta para a televisão, os dedos em riste - com anéis alternando diamantes raríssimos e rubis da Birmânia - e define, categórica, o destino presidencial do Brasil:
- Jôka, o Alckmin é picolé de chuchú, muito sem gracinha, mas pelo menos é um médico, uma pessoa fina. Não é essa gentalha ! Acho que esse país ainda tem salvação !
Gigi mergulha uma minúscula fatia de pandeló no chá inglês fumegante e completa sua tese.
- Se trancassem todos os pobres, os porteiros, os garagistas, as domésticas, faxineiras, arrumadeiras, operadoras de telemarketing e manicures em casa, se fechassem a chave todos os cultos evangélicos, os forrós, os bailes funks e os pagodes !!! O Lula perderia a maioria dos votos, não é ?!
A navete cintilante no dedo mindinho de Gigi brilha mais do que nunca.
Lá fora, a lua cheia ilumina Copacabana, lívida de espanto.
As panfleteiras Suellen, Greicekelly e Daienne.Elas estão descontroladas.