Avenida Copacabana

É exatamente assim que me sinto no Natal: um menino sentado no colo de um velho vestido de Papai Noel, com um sorriso congelado, fingindo alegria radiante, mas que na verdade está deprimido, assustado e perplexo.

Naquela mesma manhã, pouco antes de tirar essa foto na Sears, a babá Anita havia nos revelado um terrível segredo: eu fui encontrado, ainda bebê, dentro de um caixote tosco de papelão, abandonado faminto e chorando diante da porta da Igreja de Nossa Senhora de Copacabana. Uma bondosa senhora que passava, me recolheu, cobriu o meu corpinho trêmulo com mantas quentes de crochê e me levou para sua casa. Para a minha sorte, essa belíssima senhora me adotou e me criou como um verdadeiro filho.

Em pouco tempo ganhei uma linda irmãzinha (achada na porta de um pet-shop) e nós fomos batizados como Jôka e Môka.

Aí surgia a lenda, que rápidamente se tornou um mito na história carioca.

E embora toda a nossa infância fosse cercada de rumores (sussurrados por empregadas domésticas maledicentes) até aquela manhã de Natal em que a babá Anita nos contou tudo, nós nunca soubemos dessa dolorosa verdade.

Por isso nessa fotografia natalina eu tinha o semblante tão tristonho, macambambúzio, melancólico, abatido, sorumbático, taciturno, sombrio, lúgubre e enfadonho.

Ho! Ho! Ho!