A Rainha do Hula-hula

Sábado, às cinco e meia em ponto, o porteiro Inácio anunciou pelo interfone, com aquela voz de Pato Donald de todos os porteiros :
“Dona Quel tá aqui!”
Era o nosso primeiro encontro na “vida real”, já que nunca tinhamos ultrapassado os limites virtuais dos blogs.
Ela usava uma canga longa amarela e sandálias de saltos altíssimos.
Me lembrou imediatamente Dorothy Lamour, a rainha do Hula-hula.
A estrela dos glamurosos filmes musicais passados em ilhas cenográficas do Pacífico.

Fomos ao Cintra, o único bar da Av. Atlântica que tem salão com vista pro mar e um indispensável ar-condicionado glacial.

Quel, que no começo estava calada e tímida, se soltou depois do segundo suco-de-laranja. E então, subiu no pequeno palco, sussurrou alguma coisa para os músicos locais e começou a cantar “Voyage, voyage”, com uma voz suave e afinada, em um francês impecável, de fazer inveja à Catherine Deneuve.
Por um instante todos ficaram mudos, paralisados.
Então, ela foi aplaudida por uma centena de turistas, incrédulos com o charme daquela fascinante rainha do Hula-hula.

Um alemão mais afoito se aproximou emocionado e lhe ofereceu uma rosa .

Juro que vi lágrimas brilhando nos olhos daquele gigantesco bull-dog germânico.

Não sei ter relações meramente sociais.
Fico amigo ou não fico nada.

Adoro estar nos lugares, olho tudo, sou curioso, gosto de ouvir o que as pessoas dizem, mas quando elas são muitas, eu me fecho e me transformo num mosquito.
Nessas horas queria ser o Jôka P. que vocês acham que sou.
Mas ele não existe.

Não contem isso pra ninguém, tá ?

Confio em vocês.