Fósforos

Sonho que estou dentro de um táxi.
O motorista fala sem parar – do tempo, de futebol, do trânsito – e eu fingindo que durmo, para não ter que viver nada daquilo.

O carro atravessa um túnel, ou é quase um túnel.
E chega em um lugar parecido com Copacabana.
Quando ele me deixa em frente de casa, descubro que perdi as chaves.
Não reconheço a minha porta.
Toco a campainha e ninguém atende.

Me imagino passando a noite na rua, na beira da calçada.
Uma espécie de moderno “Vendedor de Fósforos”, sem chaves, sem teto, morrendo de fome e de frio.
Tatuagens nos braços e jeans em farrapos.
No quase sonho, estou excluído de uma coisa que é real.
O medo, dentro da solidão.
Só o que os outros têm, é real.

Hoje não sou eu.
Sou quase eu.