Foto : Pierre & Gilles
ISABEL
A Boîte fica quase no Leme, na Avenida Princesa Isabel. Nos letreiros em neon rosa pink, acima da porta em inox, está escrito : "Cicciollina".
A garôta de cabelos azuis e mini-vestido preto, sentada no canto mais escuro do bar é a Isabel. Seu nome é mesmo Isabel, como a Avenida. Ela já fumou nem sei mais quantos Hollywoods, enquanto espera a vez de entrar em cena.
Isabel é linda.
Os cabelos azulados da peruca coreana refletem como ondas do mar de Copacabana, na luz negra do puteiro. Tudo alí é ordinário - o letreiro em neon trêmulo, as paredes com fotos desbotadas, os drinks malhados, os clientes. E ela mesma.
A vida de Isabel é vulgar, quase sórdida.
Ela dança semi-nua, rebolando ao som de um pagode medonho. Sente o rímel escorrer, deixando dois riozinhos negros que descem até os seios minúsculos.
Quando finalmente algum cliente a chama para uma mesa, Isabel pede um Hi-Fi e diz, séria, sem um sorriso :
- Antes de mais nada, meu bem... eu vivo disso."
Ela já não se lembra de ter tido um único dia feliz na vida. Mas não desiste nunca de procurar.
Isabel é linda.
Isabel é uma princesa.
Jôka P. - Sábado, 23 de abril de 2005
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