Pierre & Gilles
Querido amigo,
há muito tempo atrás, estávamos eu e Miguel olhando para o céu de Itaipava, na rede da varanda.
Loucos, desarvorados, rindo de qualquer besteira.
Quando de repente, uma estrela, cansada de se pendurar no firmamento, despencou sobre as nossas cabeças.
Sem um lamento, nenhum ruído, nada.
Talvez um rastro luminoso, mas breve.
Tão breve que mal deu tempo de gritar :
-"Olha lá a estrela cadente !"
E tudo já tinha se acabado.
Tenho me sentido muito só ultimamente.
A solidão repleta de gente, que é a pior de todas.
A solidão dos meninos que nunca aprenderam a crescer.
Quando eu era criança, vovó Mathilde me levou ao Metro Copacabana, para ver Quo Vadis.
Vovó torcia por Deborah Kerr, a bondosa cristã de túnica azul, que amarrada numa estaca, enfrentava corajosamente uma fera faminta.
Eu torcia pela vilã, a fabulosa imperatriz morena, coberta de jóias, que abaixava o dedão, impiedosa.
Anos depois, procurando na Internet, descobri o nome daquela coadjuvante que encheu meus sonhos por algum tempo.
A atriz se chamava Patricia Laffan e nunca se tornou uma estrela.
Mas numa espécie de vingança estranha e compulsiva, eu inventei a sua história :
Ela se casou com um homem bom, o bonitão da turma, que a amava desde os tempos da escola.
E que sempre esperou por Patricia, até que ela se cansasse da carreira.
Então construiram juntos um futuro de felicidade, em Technicolor.
Patricia Laffan nunca soube que as estrelas não gritam quando caem.
Ela foi mais esperta que eu.
Pulou fora, antes do fim.
Ou talvez tenha entendido a verdade definitiva :
Elas não gritam, porque há muito perderam a voz.
De tanto gritar por socorro, na solidão azul do céu.
Sinto muitas saudades de você.
Jôka P.
4 comentários:
querido jôka p.
primeiramente, obrigado pela crônica-email-blog. me sinto devidamente honrado. entretanto, nem toda queda é dolorosa, como também nem toda estrêla tem que, de qualquer forma, cair. algumas se apagam numa explosão de energia, e vão formar um outro universo paralelo. perigosas são aquelas que fingem tombar, mas nunca aprendem a lição. essas temem a chegada do fim, como o diabo à deus. todavia, uma coisa é curiosa. mesmo estando tão longe, à tanto tempo, copacabana é, e sempre será, o lugar aonde comecei a virar gente. antes eu conseguia dizer de cor, o nome de cada uma das transversais que cruzam a nossa sra. de copacabana, do posto seis ao leme. hoje, também me sinto só, e realizo que o tempo não só passou, como voou. acho que seremos eternos peter pans, numa cruzada vital contra o deterioramento de nossos sonhos. Dream it and be it! saudades do brasil, de você e de copacabana.
claudionor
Oi, jôka!
Amei esse texto sobre as estrelas que não gritam quando caem!
Você escreve muito bem.
Bom domingo e que você se recupere logo do tombo!
PS: Morei, por muito tempo, desde a minha infância, na R. Domingos Ferreira. Tem alguma foto de lá?
Joka querido amigo...
Gostei muito do seu texto...
Você é um artista completo:
pinta bem, desenha bem, escreve maravilhosamente bem, tem um humor refinado..
É uma estrela que só cai quando escorrega em Ipanema rsrsrsrsr...
Vou passear sempre por aqui..
Beijinhos
Dê Toledo
Parabéns Jôka,
teu Blog está cada vez mais cativante. Demoro a visitá-lo, mas quando o faço não quero sair, leio todos os posts e comentários. Sucesso!
Joel
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